Narciso em férias - Resenha crítica - Caetano Veloso
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Narciso em férias - resenha crítica

Narciso em férias Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Biografias & Memórias

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Narciso em férias

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-3593-225-6

Editora: Companhia das Letras

Resenha crítica

Verdade tropical

​Em 1997, Caetano Veloso publicou o best-seller Verdade tropical. Na autobiografia, o artista revisitava momentos cruciais de sua trajetória. Um verdadeiro testemunho da vida cultural brasileira na segunda metade do século 20, com destaque para o tropicalismo desde o nascimento, as amizades, as passagens, as polêmicas e tudo que cercou Caetano desde que apareceu para o Brasil. 

No livro, o autor narra sua formação cultural, uma riquíssima mistura de música, cinema, artes plásticas, literatura e filosofia. Podemos classificar sua autobiografia como um misto de memórias, ensaio e História com H maiúsculo, com uma escrita apaixonada e impactante, dessas que fisgam o leitor. 

Narciso em férias surge dali. Para muitos, é o capítulo mais tocante da obra. São mais de 150 páginas dedicadas a narrar a marcante experiência da prisão em meio à ditadura militar. Na cela, Caetano pensou e repensou sobre muitas questões existenciais, individuais e coletivas. Eram anos de chumbo. Para o cantor, estar ali, preso sem motivo, era um caminho sem volta na maneira de interpretar o mundo. 

Verdade tropical fez tanto sucesso que foi relançado 20 anos depois, quando a sociedade brasileira voltava os olhos para políticos entusiastas do regime que prendeu Caetano e outros brasileiros. Duas décadas depois, seu livro monumental ganhou outra dimensão no imaginário cultural do país. E precisou de um volume à parte, para expressar a força do relato sobre os dias na cadeia. 

A prisão

​No dia em que foi preso, Caetano não conseguia dormir. Agentes da Polícia Federal bateram à porta de sua casa ainda nas primeiras horas do dia 27 de dezembro de 1968, logo duas semanas depois do governo decretar o AI-5, Ato Institucional responsável por endurecer o regime militar, permitir a prisão de milhares de pessoas e consequentemente jogar tanta gente nos porões da tortura e das mortes brutais. 

Caetano Veloso e Gilberto Gil foram retirados de seus apartamentos, no centro de São Paulo, e levados ao Rio de Janeiro dentro de uma caminhonete, acompanhados por policiais à paisana. Não havia qualquer justificativa para aquela arbitrariedade. 

Mais que uma surpresa, o som da campainha tocando em plena madrugada causou irritação no artista. Afinal, ele estava embaixo das cobertas, repousando ao lado da então esposa Dedé Gadelha, cheio de projetos e planos para o futuro próximo. Não imaginava que o horror chegaria assim, como uma visita inesperada, sem cerimônia e tomando conta de seus dias. 

O som da prisão chegando fez baixar a consciência, em Caetano, de como o gosto secreto do destino cruel surgindo repentinamente era indigesto, amargo e cheio de imprevisibilidade. O artista sabia o quanto seu estilo meio hippie, com um cabelão chamativo e capitaneando mudanças culturais notáveis para a década, com o tropicalismo, incomodava os conservadores do governo.

Mesmo se enxergando como alguém odiado pela parcela mais conservadora da população brasileira, não lhe passava na cabeça a ideia de ficar por quase dois meses encarcerado, sem ter cometido crime algum.

O aviso

​Ainda que incomodassem o poder vigente por pregar a liberdade em suas letras e na forma de levar a vida, ficar preso não passava pela cabeça de Caetano e Gil. Na verdade, os dois sequer imaginavam que algo grave poderia acontecer com a dupla. Mas não foi por falta de aviso. Dias antes de a Polícia Federal bater à porta, o humorista Jô Soares deu um aviso de que ambos estavam na mira dos militares. 

Caetano não acreditou nessa possibilidade. Afinal, tinha horror ao socialismo soviético e era, com os colegas do tropicalismo, frequentemente criticado pela esquerda brasileira. Eram hostilizados sob a acusação de serem alienados e americanizados demais, esquecendo das próprias raízes. 

Ao ser preso, o cantor imaginava que seria conduzido para um interrogatório com oficiais de São Paulo, devido à participação na Marcha dos 100 mil, evento que havia ocorrido dias antes, em protesto contra a ditadura militar. Nada disso, era bem mais grave. 

Anos depois, Caetano soube que o apresentador Randal Juliano foi um dos maiores responsáveis por sua prisão. Tudo começou com uma acusação falsa. Durante o programa “Astros do Disco”, que apresentava na TV Record durante a década de 1960, Randal se indignou contra Caetano. Aos berros, garantiu que ele havia cantado o hino nacional no ritmo da música Tropicália. Um ato imperdoável e subversivo demais para os tempos da ditadura militar. 

Não se sabe ao certo qual a parcela de responsabilidade dessa mentira dita na televisão ao vivo para fazer Caetano Veloso viver seus piores dias. Mas ela fez parte de todo um caldo cultural de violência, autoritarismo e repressão do Estado.

O desejo sexual

​Passamos da metade do livro e chegamos ao momento em que Caetano relata a total ausência de desejo sexual na cadeia.

Dentro da cela, ele nunca estava sozinho e por isso não havia vontade ou chance de se masturbar. Lá, um dos outros detentos lhe disse que os militares colocavam uma “substância broxante” na comida distribuída aos presos. Na época, o artista chegou a cogitar a veracidade desta hipótese, mas hoje vê na fala um mito consolador. Funcionava como uma explicação satisfatória para sua total inapetência para o sexo. 

Caetano se sentia reduzido, vendo os dias passando, completamente desumanizado. Depois de 15 dias sem fazer sexo ou se masturbar, sequer sofreu com poluções noturnas, em um período que sonhava frequentemente com mulheres seminuas, embora não acredite que conseguisse dormir profundamente durante a noite. 

Os presos comuns estavam em uma cela ao lado, enquanto os presos políticos se sentiam protegidos por uma ordem de não agressão física. Esta regra não escrita fazia com que muitos oficiais soltassem comentários sarcásticos e piadas de humor negro para aterrorizar os detentos. 

E, se antes de ir para a cadeia, Caetano chegou a pensar que também sentia desejo sexual por homens, durante a prisão, perdeu totalmente esse tesão. Os militares mataram qualquer atração física por pessoas do mesmo sexo do cantor. 

Lá dentro, sentia-se seco de tesão e de sentimentos. Nem chorar conseguia, só pensava em voltar para casa.

Terra

​Em uma de suas visitas ao marido, Dedé Gadelha levou um exemplar da revista Manchete, com as primeiras fotografias da Terra tiradas de fora da atmosfera. Era a primeira vez que o planeta podia ser visto inteiramente. As imagens provocaram forte emoção do lado de fora.

Imagine, então, dentro da cadeia. Naquela cela minúscula, Caetano podia passar muito tempo admirando o planeta inteiro, tendo o privilégio de encarar uma visão do espaço. Aquilo ficou tanto tempo em sua cabeça que rendeu uma das canções mais bonitas de sua carreira. 

Em “Terra”, os versos indicam como o artista se sentiu ao ver o planeta em que vivemos, pela primeira vez, em sua totalidade. Parecia nua, à mostra, diante de quem nem tinha apelos sensuais nos dias de restrição da liberdade.

Depois de ser solto, Caetano voltou para a Bahia. E eternizou versos sobre o planeta visto por um detento. 

“Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez as tais fotografias
Em que apareces inteira, porém lá não estava nua
E sim coberta de nuvens
Terra, Terra,
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Ninguém supõe a morena dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema mando um abraço pra ti
Pequenina como se eu fosse o saudoso poeta
E fosses a Paraíba
Terra, Terra (...)”

Sonhando com a liberdade

​Caetano chegou a sonhar com sua ordem de liberação. Idealizava o momento e a forma como receberia a notícia tão esperada. Acreditava que seria notificado depois do meio-dia, mas antes do cair da tarde, enquanto comia. A cadeia tem a capacidade de mexer com o imaginário de qualquer um, especialmente quando a prisão é injusta e arbitrária. 

Diariamente, Caetano tinha esse tipo de pensamento irracional: “Se eu lançar o jato de Baygon nessa barata e ela conseguir fugir sem morrer, haverá um atraso de três dias na ordem de liberação” e “Se ‘Hey Jude’ for assoviada por um soldado do lado de fora da cela, isso dará um empurrão muito mais fraco em direção à liberdade do que se a mesma canção for cantada pelo soldado; se, porém, ela for executada no rádio antes do pôr do sol, o atraso se reduzirá em doze horas”.

Chegou até mesmo a deixar de ouvir suas canções favoritas por muitos anos, como se elas pudessem ter alguma interferência não só nas lembranças, mas na forma como foi liberado do cárcere. Mas ele está aqui, vivo, perto de completar 80 anos como um dos artistas mais importantes de todos os tempos. 

Em 2020, o documentário Narciso em férias foi lançado na plataforma de streaming Globoplay. Nele, Caetano relata esses dias olhando para uma câmera, em um monólogo tocante, cheio de emoção e repassando os dias mais difíceis para os artistas brasileiros. Caetano vive, viva Caetano!

Notas finais 

​Relatos sobre dias, semanas ou meses dentro de uma cela sempre impactam profundamente. É uma experiência de vida traumática e inigualável. Quando a prisão é arbitrária, sem crimes cometidos, julgamentos justos ou previsão de soltura, é ainda pior. Caetano Veloso mostra neste Narciso em férias como a ditadura militar deixou traumas que não podem ser esquecidos. Esta obra histórica é um exemplo do quanto o cárcere injustificado deixa marcas na vida de qualquer um.

Dica do 12min

​Outro relato autobiográfico tocante é Uma terra prometida, no qual Barack Obama nos emociona com muita sensibilidade ao descrever sua trajetória, desde o começo da carreira até os anos na presidência dos Estados Unidos. 

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Quem escreveu o livro?

Um dos grandes nomes do tropicalismo, Caetano Veloso é um dos maiores... (Leia mais)

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